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Cavaleiro da Lua: 1ª Temporada cria inconsistência em tudo, exceto nas atuações (Crítica)

Um caminho de altos e baixos gera um resultado mediano para Cavaleiro da Lua

Publicado em 7 de maio de 2022, por Críticas

[ATENÇÃO: POSSÍVEIS SPOILERS AO LONGO DO TEXTO!]

Cavaleiro da Lua (Moon Knight, no original), a última série da Marvel no Disney+, teve seu episódio final lançado nesta quarta-feira (4). Na produção, conhecemos Steven Grant, Marc Spector e por fim, Jake Lockley (todos interpretados por Oscar Isaac), enquanto avatares do deus egípcio Khonshu e sua jornada, que por vezes beira o autoconhecimento, mas também estando dentro da jornada do herói, Cavaleiro da Lua.

O personagem por si só é uma grande bagunça, visto que nos quadrinhos e na série Marc Spector possui transtorno dissociativo de identidade, criando outras personalidades em um mesmo corpo. Aqui elas assumem o controle em momentos diferentes e, durante os episódios, a conversa entre as diferentes identidades foi tratada como uma voz subconsciente, inicialmente mostrada nos reflexos do personagem e posteriormente em total controle (apenas de duas delas — Marc e Steven) podendo serem alteradas a qualquer momento.

Partindo deste ponto de vista, o personagem é bastante interessante, cuja maneira da série mostrar isso em seu início é maravilhosamente maluca. Mesmo assim, logo no primeiro episódio se nota uma inconsistência em maneiras de tratar um episódio, gêneros narrativos e linguagem audiovisual. Teoricamente isso poderia transformar a série em uma ótima experimentação de possibilidades, mas conforme os episódios vão passando, a fórmula Marvel continua muito presente e relevante no que se cria para as telas. Ainda há temas que precisam se enquadrar no modelo de Kevin Feige para produção de obras do MCU, algo que em 2022 chega a ser insuportável.

No MCU, já foram lançadas 33 obras somando os filmes e séries que constam no canon oficial da narrativa (não contando as séries da ABC Studios nem as co-produções com a Fox e Sony) e o público já se encontra por muitas vezes “surrado” da mesma linha histórica dentro de uma única fórmula, que dificilmente não é lida como “batida” ou “repetitiva”. Cavaleiro da Lua possui ainda alguns desses elementos, que ao meu ver, deixaram todas as características da série ruins. No entanto, dentro do universo criado, a produção possui muitos pontos positivos — por isso a chamo de inconsistente do começo ao fim desta crítica; não há nada que permaneça dentro de uma mesma linha de raciocínio ou de um mesmo modo de produção.

(Disney+/Reprodução)

Dentre os pontos negativos, é impossível deixar de citar o CGI. Muitos dos fãs deixam de se importar verdadeiramente com este elemento em várias produções da Marvel, mas, como disse em minha coluna Pop na Práxis, a má utilização de VFX não é um problema apenas desse estúdio. Neste caso, porém, a Marvel abusa do que há de pior na utilização tangível de efeitos visuais e não é de hoje que o estúdio libera cenas em que a versão final está majoritariamente ruim, com uma renderização ruim ou outros tantos problemas na produção.

No caso de Cavaleiro da Lua, além do design de Khonshu ser relativamente barato, não assustando muito como o primeiro episódio preveria ao utilizar recursos estilísticos de horror, a somatória visual não agrada. Não somente esse personagem, mas outros efeitos parecem realmente feitos em pouco tempo ou com baixo orçamento — o que parece improvável em séries da Disney. Mesmo se o orçamento for realmente alto, não seria o primeiro da Marvel a correr com a pós-produção, gerando efeitos ruins mesmo diante de um valor milionário de produção. O traje do protagonista é muitas vezes texturizado de maneira estranha e animação parece amadora em várias cenas. O primeiro episódio me deixou desconfortável com a má qualidade de Chroma Keys em algumas cenas externas e até de render 3D na cena de perseguição dentro da van.

Quanto ao roteiro, a qualidade é questionável em vários momentos que situações são mostradas apenas para funcionarem dentro do modelo MCU e é de grande qualidade ao tentar ser inovador e diferente do que estamos acostumados. A premissa de apresentação de Steven é muito interessante, pois me lembrou em vários momentos os filmes de lobisomem, ao ter um personagem que se amarra na cama para fugir de um monstro que guarda dentro de si, no caso fugindo da sua outra personalidade. O processo de conhecermos todas as personalidades é muito interessante e ajuda a fortalecer o produto como série, principalmente ao incitar no espectador uma curiosidade presente em todos os episódios. As cenas dentro do sanatório também lembram bastante de Legion, do FX, já que a série também possuía um protagonista acometido com doenças mentais (esquizofrenia) e era difícil entender exatamente o que seria criação de sua cabeça e o que faria parte da realidade dentro daquele universo de fantasia. Mesmo assim, ainda caminha para um campo diferente ao mostrar flashbacks e tudo dentro de uma perspectiva mítico-egípcia.

(Disney+/Reprodução)

Há mais pontos positivos e constantes, como as atuações de Oscar Isaac, May Calamawy e Ethan Hawke, que estão próximos, mas cada um dando camadas diferentes aos seus personagens. Isaac transita muito bem entre trejeitos, trabalho de voz e transições das personalidades diferentes; se fosse gravado em um momento da história em que se utilizaria menos efeitos visuais, por exemplo, ele não precisaria ter seus olhos brilhando ao trocar de personalidade, visto que é possível notar a diferença apenas em suas atitudes.

Enquanto isso, Hawke segura um personagem complexo e difícil, que dentro do roteiro é raso — ele apenas parece querer libertar Ammit e ter um passado tortuoso com Konshu — mas sua atuação o engradece. Já Calamawy consegue dar voz, carisma e camadas mais profundas para uma personagem que só existe no MCU, devido a uma necessidade de representatividade egípcia que a série faltaria se não fosse à ela. O Egito também é tema de discussão, ao ser narrado/mostrado por um diretor que é natural do país e se encontrava insatisfeito com os rumos que Hollywood dava à representação de seu país. Aqui ele mostra situações boas e ruins que seu país tem, além de abarcá-lo numa jornada mitológica de seus antepassados.

(Disney+/Reprodução)

No geral, os maiores defeitos possíveis de se ver na série se dão ao passo que suas inconsistências são altamente relevantes, impossíveis de passarem despercebidas e, ao final, quando pensamos em séries genuinamente boas não é possível pensar em Cavaleiro da Lua, ou outra do MCU — talvez WandaVision para alguns, mas esta ainda é passível de críticas devido ao final repetitivo dentro da Marvel. A tentativa de reutilização da “fórmula” é cansativa pela quantidade de produções que já saíram com ela e aqui por não deixarem a produção abraçar a loucura, além de talvez até uma violência que não foi totalmente mostrada nas telas.

Todas as vezes em que a Marvel termina uma série, dando muito espaço para uma grande batalha, ela esquece de outros possíveis caminhos que produções nesse formato também podem ter como cliffhangers intensos para próximas temporadas, desenrolar de respostas chocantes para os mistérios inseridos durante a temporada ou conclusão com base num tema tratado durante a série que seja realmente potente e puxada por um fio condutor desde o início.

E esses são apenas alguns dos motivos que me levam a acreditar que Cavaleiro da Lua é inconsistente, incongruente e com um potencial que poderia transformá-la numa série digna do Emmy Awards, mas que está longe de ser usado devido aos mandos e desmandos do estúdio. Mesmo assim, o personagem titular é muito interessante; talvez em outras produções dentro do MCU, seu desenvolvimento fique perdido ao ser misturado a outras narrativas. Vamos aguardar!

Cavaleiro da Lua
Moon Knight
Disney+
Jeremy Slater
Jeremy Slater, Kevin Feige, Louis D'Esposito, Victoria Alonso, Brad Winderbaum, Grant Curtis, Oscar Isaac, e Mohamed Dia
Minissérie

Nota: 2.5

Nota: 2.5
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Estudante de Cinema e Audiovisual em formação, "sériéfilo" por consequência, entusiasta de efeitos visuais e crente no poder de transformação social através das artes.