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Dahmer, da Netflix, ficcionaliza a história de um serial killer que chocou o mundo (Crítica)

Dahmer: Um Canibal Americano é mais um true crime para a lista dos viciados em histórias de seriais killers

Publicado em 7 de outubro de 2022, por Críticas

O canibalismo é algo recorrente em narrativas audiovisuais. Já chocam por serem ficções, mas em Dahmer: um Canibal Americano o choque é ainda maior por ser uma série baseada em fatos. Composta por 10 episódios, todos eles te prendem no modelo binge-wacthing ou a repulsa pelo teor do canibalismo o fazem parar.

A história de Jeffrey Dahmer, em formato audiovisual, não é uma novidade. Inclusive, em breve, a Netflix irá lançar uma nova produção sobre o serial killer, porém de forma documental. O que, porém, fez a série atual fazer tanto sucesso? Em sua criação está o nome de Ryan Murphy (conhecido por American Horror Story, America Crime Story, entre outros) já consolidado no gênero terror e junto dele temos Evan Peters, que protagoniza no papel titular.

A narrativa se inicia em 1991, ano em que Dahmer é preso, em uma cena agoniante, na qual é possível escutar alguma ferramenta cortando algo pelo ducto de ventilação do apartamento vizinho. Assim percebemos que Jeff, como também é chamado, não está preocupado com o que os vizinhos irão saber sobre suas ações. Inclusive, uma delas é Glenda (Niecy Nash), que sempre reclama de mal cheiro, algo que não incomoda ele. Em uma iluminação baixa, que não dá muito para ver os rostos e uma música enigmática, já podemos ver qual o tom da série. Após o corte desta cena, em primeiro plano, temos um poste com vários cartazes de pessoas desaparecidas; tudo isso a alguns passos da entrada do prédio no qual o assassino reside. É uma outra dica para perceber que pessoas somem com muito facilidade na área. 

Até o momento que Jeff é preso, a série vai acontecendo linearmente, depois disso ela começa a entrar em flashbacks para tentarmos entender o porquê do personagem ser daquela forma. Em um dos flashbacks, Dahmer tem 6 anos de idade e vemos que ele chama socorro para sua mãe, Joyce. Ela tenta se suicidar mais uma vez por conta de uma fala de seu pai, Lionel. Em uma outra cena, mas dessa vez no presente que a série retrata, Joyce está conversando com uma conselheira e ela diz que a mãe de Dahmer sofreu de depressão pós-parto. Como eles estavam nos anos 1960, assuntos relacionados à saúde mental da mulher não era discutidos, por isso ela não foi diagnosticada e tratada. A partir deste fato, também percebemos que o casamento de seus pais não vai bem, a ponto de se divorciarem.

Quando Dahmer está na adolescência, seus pais finalmente se divorciam. Joyce fica com a guarda das crianças, embora Lionel acredite que Jeffrey já seja grande o suficiente para decidir por sua própria vida. Porém, quando Jeff vê sua mãe arrumando o carro com seus pertences, percebemos que ela está indo embora e irá deixá-lo com seu pai, que não está em casa. Ao longo da narrativa percebemos que Jeff, adolescente em seu último ano da escola, ficou sozinho por três meses completos. Nesse tempo, ele começou a criar o hábito de beber cerveja, abrindo até mesmo uma dentro da sala de aula. A série mostra sua breve passagem pela faculdade e pelo exército, local onde aprendeu a utilizar medicamentos voltados a procedimentos em combates com os pacientes desacordados. 

Pelos crimes cometidos pelo protagonista, os roteiristas decidiram não trazer imagens gráficas dos momentos em que o assassino desmembrava os corpos das vítimas para separar suas partes. No momento em que a polícia, com um mandato, entra dentro do apartamento de Jeffrey para buscar provas dos crimes, vemos que ele guardava vários crânios, ossos e objetos pessoais de suas vítimas. Por meio dos objetos, inclusive, é feito o reconhecimento de algumas delas. Vale destacar que Dahmer, em sua maioria, assassinou apenas homens.

(Netflix/Reprodução)

A escolha de não trazer para a tela os crimes cometidos foi bastante sábia, pois até necrofilia Dahmer cometia. Só trazendo alguns traços de seu modo operante nas vítimas — transformando-as em “zumbis”, algo causado por uma grande ingestão de drogas, quase levando a uma overdose —, traço que ele criou desde sua passagem pelo exército. De forma gradual, aprendemos como ele foi criando sua forma de persuadir as vítimas até levá-las para sua casa e drogá-las para conseguir fazer o que quisesse com elas.

Porém, a série falha ao tentar humanizar demais o serial killer, enfantizando o fato dele ter sido abandonado por ambos os pais. Porém, é interessante notar como esses pais surgem depois na narrativa. Após a morte de Jeffrey, seus pais descobrem que seu cérebro foi doado para estudos em uma universidade. Jeffrey queria ser cremado, mas seu pai briga judicialmente contra sua mãe que quer que seu cérebro seja estudado. O juiz toma a decisão a favor do pai, pois é algo que deve ser trazido um fim, não deve ser tentado prolongar uma história tão dolorida e trágica para os envolvidos. Por isso, a série peca, pois ao humanizar e trazer esta cena, há uma contradição na narrativa. É uma ficção e não um documentário. Até porque pela quantidade de tentativas de justificativas dele ser do jeito que é, é maior do que o número de cenas trazendo a discussão que não dá para entender uma cabeça tão doentia quanto a dele. Porém, para os amantes de true crime, é uma série para a lista de produções do tipo que valem a pena assistir.

Dahmer: Um Canibal Americano
Dahmer - Monster: The Jeffrey Dahmer Story
Netflix
Ryan Murphy, Ian Brennan
Ryan Murphy, Ian Brennan, Alexis Martin Woodall, Eric Kovtun, Carl Franklin, Evan Peters, Janet Mock
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Nota: 4

Nota: 4
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Amo música, cinema, artes visuais e cores. Gosto de descansar vendo filmes e, as vezes, isso acaba cansando também. Sou graduada de Cinema e Audiovisual.