Heartstopper apaixona e cria um ambiente de aconchego em 1ª Temporada (Crítica)
Novo romance LGBTQIA+ da Netflix emplaca o Top 1 no Streaming e no coração dos críticos
Publicado em 24 de abril de 2022, por Guilherme S. Machado • Críticas[A CRÍTICA A SEGUIR NÃO CONTÉM SPOILERS!]
Partindo do ponto de vista de Charlie (Joe Lock), que se apaixona por Nick (Kit Connor), Heartstopper, nova original Netflix, opta por nos transportar a um mundo colorido, fofo, por vezes fantasioso e sempre muito leve. Dentro da temática gay como ponto de partida, também abraça outros segmentos da discussão LGBTQIA+, como questões transgêneros e lésbicas. Adaptado dos quadrinhos de Alice Oseman, a série mantém o mesmo enredo principal dela, apesar de haver algumas liberdades para desenvolver sozinha certas narrativas.
Charlie é retratado como um adolescente renegado em sua escola (um colégio apenas para meninos), principalmente pelo fato de ter se assumido gay (forçadamente) durante o último ano. Ele é participativo na vida dos amigos Tao (William Gao), Isaac (Tobie Donovan) e Elle (Yasmin Finney), que não convive mais com eles na escola após ter se assumido uma menina trans e ir para o colégio feminino mais próximo. Neste núcleo somos apresentados a um grupo que aparenta ter amizades de longa data, cumplicidade e interesses em comum. São todos “nerds” e excluídos dos grupos populares do colégio. Dentre os populares se encontra Nick, o que se mostra um grande entrave na mistura de universos do casal após se conhecer.
Ao mesmo tempo em que a série se mostra delicada, preocupada com suas narrativas e a forma de as contar, cria um universo divertidíssimo e apaixonante dentro de sua obra. Todas as vezes que os personagens principais experimentam sensações difíceis ou momentos de tensão amorosa, aquela animação 2D, muito semelhante com os quadrinhos, toma a tela e transforma tudo em um grande vislumbre fantasioso do que a cena talvez seria se retratasse a mesma situação de forma mais realista. Mas aqui é tudo muito bem vindo, muito gostoso e puxa o espectador para aquele estado de paixão adolescente muito recorrente entre a fase dos 13 aos 15 anos.

(Netflix/Reprodução)
Mesmo dentre as dificuldades, os problemas apresentados são bastante superáveis e a série nunca encerra situações “em baixa”. Toda vez que algo muito ruim acontecia a narrativa voltava a respirar e mostrava mais um momento de leveza. De certa forma, o programa evita ser trágico, triste ou simplesmente não focar em emoções “negativas” exaltando um positivismo muito característico dos quadrinhos.
Em meu texto falando sobre a estreia da série, a chamei de “fanfic”, que pode ser lida como um ponto positivo ou negativo de acordo com a sua experiência na área. Vejo isso de maneira muito feliz como a fantasia foi tratada. Não falamos aqui de uma história real. Na realidade, a autora dos quadrinhos e da série, Alice Oseman, não tem idade para ter vivido num ensino médio em que esses assuntos teriam essa leveza de serem comentados. É mais uma daquelas obras que tentam encaixar os clichês mundialmente conhecidos nos dias atuais e na série é tudo muito natural, até as mensagens que Charlie constantemente escreve e apaga ao ficar nervoso de enviá-las ao seu “crush”, Nick. A direção de arte se aproveita do universo dos quadrinhos para também repetir os amarelos, turquesas e rosas, criando um universo a parte da realidade.
Certos temas parecem ser evitados sob esse estado de “fanfic”, mas justamente pelo foco da série ser outro. Se fala da sexualidade, mas não se fala sobre sexo — que também faz parte do momento da descoberta sexual em que os personagens vivem. Se fala de preconceito, mas não se mostra todas as facetas, implicações políticas e formas de combatê-lo juridicamente — a personagem de Elle não denuncia seu professor transfóbico a entidades competentes sendo que isso já é possível no momento em que a série se passa —, se fala do romance, mas são removidos os entraves emocionais como dúvidas e questionamentos durante o processo. Eles se gostam, são adolescentes e ponto. Esse é o tom da série. Assim como várias produções, este é o caminho tomado por ela e é totalmente válido.
Um outro elemento técnico que engrandece demais as escolhas da série é a participação de David Tackeray, — Coordenador de Intimidade novato — mas que já tem um currículo extenso, ajudando em cenas que envolvem consentimento em Sex Education (3ª Temporada), The Crown (5ª Temporada), Industry, It’s a Sin e outras britânicas. Principalmente para o Reino Unido, a maneira como os personagens se conectam parece estar repetindo um certo “padrão” comum desde Normal People, do Hulu. Os olhares que Kit Connor e Joe Lock trocam em cena apontam essa continuidade da forma que essa nova função dentro do set carrega para a atuação do elenco. Outros casais como Tara (Corinna Brown) e Darcy (Kizzy Edgell) também se beneficiam da função, explorando cenas de companheirismo e cumplicidade expressas em tela. Olivia Colman faz uma participação rápida que entrega seu talento; nada menos do que o esperado para alguém com a carreira dela.

(Netflix/Reprodução)
Sendo suspeito, como alguém que realmente aprecia o material de séries e minisséries britânicas, essa é mais uma que se propõe a algo e cumpre seus intuitos como foram inicialmente apresentados: uma série leve, feliz, com personagens secundários interessantes e material pronto para próximas temporadas. É simplesmente uma delícia de ser ver a direção de Euros Lyn tão conectada com o universo de Alice Oseman, uma coordenação que por vezes não alcança o resultado desejado em outras obras. Mas aqui, eles defendem esse universo alheio às possíveis “desgraças” que poderiam acometer nossos protagonistas. É apenas uma exaltação dos desejos de tudo dar certo na adolescência ocidental e neste caso, uma adolescência LGBTQIA+.

Nota: 5
