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Turma da Mônica – A Série é melhor que os dois live-actions anteriores… Ainda bem! (Crítica)

Turminha migra das telonas para a televisão com muito mais originalidade

Publicado em 2 de agosto de 2022, por Críticas

Se alguma produção conseguiu pegar um público desprevenido foi o lançamento da série de televisão original do Globoplay, Turma da Mônica  – A Série.  Dirigida por Daniel Rezende, mesmo responsável dos outros filmes da turma, a série alcança tons bem diferentes dos pré-estabelecidos nas obras prévias. Roteirizada por Daniel, Mariana Zatz, Mauro D’Addio e Marina Maria Iorio, essa sala de roteiristas foi responsável por oito episódios gostosos, gentis e profundos ao narrar um universo já estabelecido, com uma gama de histórias tão grande quanto sua história.

Com um equilíbrio bastante considerado pelos criadores, a série dá tramas principais para Mônica, Magali, Cascão, Cebolinha, Milena, Carminha Frufru e Denise. Os outros personagens como Titi, Jeremias, Quinzinho, Marina, Nimbus, Do Contra e Humberto ficam bastante apagados, não tendo relevância ou fazendo muito pouco para a história andar. No entanto, a existência destes personagens não ser ignorada é mantida como um fan-service bastante eficiente, sem exageros e de certa forma agradável para os fãs. Com relação à Turma da Mônica os personagens são vários, e desenvolver bem todos de uma só vez seria praticamente impossível. A criadora Mariana Zatz até chegou a comentar essas escolhas publicamente.

Apesar dessa atitude que entristece tantos fãs, ela não poderia estar mais correta. Dificilmente séries com muitos personagens principais conseguem desenvolver todos igualmente sem oscilar nas participações e tempo de tela, dando tons diferentes para cada um e por vezes esquecem de detalhes importantes no desenvolvimento de personagens. Turma da Mônica – A Série passa muito longe disso. Ao utilizar de um formato investigativo para entrelaçar e amarrar sua história, vemos a investigação de Denise e Carminha Frufru para descobrir qual personagem a atacou com um balde de lama ganhar proporções imensas e bastante emocionais.

Luisa Gattai e Becca Guerra como Carminha Frufru e Denise, respectivamente. (Gshow/Reprodução)

A dupla de patricinhas é simplesmente uma das melhores escolhas da série, tanto de elenco quanto narrativa. Carminha (Luisa Gattai) que aparenta ser apenas invejosa de início se mostra cada vez mais frágil e imperfeita, mesmo possuindo traços que fazem parte de um tipo de conceito de perfeição — ser loira, rica, magra, bonita, de olhos azuis. Dentro desses padrões que são tão complexos ela se encontra perdida, se mostrando frágil de uma maneira que consegue a empatia do espectador e dos personagens rapidamente, fazendo boa parte de suas características negativas desaparecerem.

Denise é um acúmulo de situações que tinha tanta coisa para dar errado. E a atriz Becca Guerra se impõe com uma grandiosidade simplista, dando à personagem conhecida como uma fofoqueira nas HQs, uma característica de fofoqueira engraçada, interessante e que prende o olhar. Utilizando gírias inventadas e adaptadas da internet, ela ofende e faz rir na mesma intensidade, passando dos limites por ser uma personagem que está naquele lugar da complicação em relação ao politicamente correto. Mesmo assim, suas travessuras são atenuadas pelo formato infantil que saem de suas falas. Com certeza diverte todas as idades.

Comentando sobre idades, este é um dos fatores mais relevantes para a trama, muito em prol da personagem Mônica (Giulia Benite), em crise diante da pré-adolescência batendo em sua porta. Todos da antiga turma parecem ter outros interesses, bem estabelecidos como fatores que unem o grupo no filme Lições (2021). Aqui, os delírios de performance diante dos outros, como se mostrar em relação ao mundo e a reputação, coisas que normalmente são relevantes para adultos, se tornam pivô das discussões destes pré-adolescentes tão novos neste mundo. Eles erram bastante nesta temporada, mas chegam a algum lugar.

Giulia evoluiu muito como atriz e como Mônica, nos provando ficcionalmente porque é a dona da rua, e não-ficcionalmente porque é a atriz para o papel. Sua conexão com a personagem em crise é visível e muito bonita de se ver. Todo o elenco parece estar crescendo junto dos personagens e as crises retratadas parecem ter saído mesmo que minimamente de um pouco de sua vida pessoal.

(Globoplay/Reprodução)

Quanto ao resto da turma, Cebolinha (Kevin Vechiatto), Magali (Laura Rauseo) e Cascão (Gabriel Moreira) recebem plots muito coerentes consigos mesmos. Cebolinha entra também na crise de aparências e divide sua lealdade com Mônica; Magali além de comilona cria crises com sua dificuldade de dizer “não”; Cascão leva seu problema com banho longe demais ao ponto de ficar tão sujo e não parar de se coçar que precisa se isolar da sociedade com o Capitão Feio/Feitoso (Fernando Caruso). Milena se torna meio apagada nessa situação ao ganhar apenas uma narrativa em que ela gostaria de ser vista para além da filha da veterinária, ao mesmo tempo em que não possui outras características fortes para se realizar dessa forma.

A direção de arte de Mariana Falvo, nos coloca numa ambientação ao mesmo tempo que brasileira, tão colorida, visível e gritante que nos tira um pouco da realidade. O live-action dos filmes e da série permanece num local de estranheza agradável, que transporta o espectador e enche os olhos de audiências infantis, com as cores vibrantes e que se tornam mais perceptíveis após os processos de correção de cor.

No geral, a série mantém emotiva, colocando fan-services, abraçando os personagens e divertindo na intensidade certa. Esta produção felizmente abre o coração para falar e abordar a turma de maneira mais relevante do que os anteriores Laços (2018) e Lições (2021). Nestes dois, mesmo tendo um material bastante rico, em vários momentos no primeiro e em alguns no segundo a narrativa se manteve bobinha demais.

(Biônica Filmes/Reprodução)

Apesar de focar num público infantil, um live-action da Turma da Mônica é possível de ser lido como diferente das animações já lançadas como Cine-Gibi (2004), Uma Aventura no Tempo (2007) e as histórias avulsas já distribuídas pela Maurício de Souza Produções. Neste outro tempo e espaço é um alívio ver estes núcleos mais próximos à realidade. Mesmo diante das narrativas mais fugazes, os quadrinhos de Maurício de Souza tocaram de maneiras inimagináveis seu público, então um live-action que teoricamente condensaria muito dessa obra deveria estar preocupado em fazer isso com maior frequência ao invés de necessariamente contar histórias simples infantis.

A produção ainda abre espaço para um possível futuro na Mônica Jovem, que teve um projeto lançado e está em busca de outro elenco. Não sabemos quais são os planos ainda para este projeto, mas é fato que causou certa revolta com os fãs. De qualquer maneira o núcleo principal de atores ainda têm projetos previstos para o bairro do limoeiro. Espero que sejam de tamanha relevância e qualidade vistas nessa série.

Turma da Mônica - A Série
Turma da Mônica - A Série
Globoplay
Daniel Rezende, Mauro D'Addio, Marina Maria Iorio, Mariana Zatz
Daniel Rezende, Bianca Villar, Karen Castanho, Fernando Fraiha
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Nota: 4.5

Nota: 4.5
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Estudante de Cinema e Audiovisual em formação, "sériéfilo" por consequência, entusiasta de efeitos visuais e crente no poder de transformação social através das artes.