BBB 22 se despede sem deixar saudade: o que deu errado nessa temporada?
Depois de 100 dias de confinamento, o BBB 22 finalmente chega ao fim carregando consigo uma edição problemática e sem carisma
Publicado em 26 de abril de 2022, por João Schiavo • Críticas, Reality ShowTrês anos após uma reformulação interessante no formato, o Big Brother Brasil apresentou em 2022 sua pior edição desde a mudança. Sem empolgação, com narrativas inexistentes e um elenco sem comprometimento, o BBB 22 se despede hoje do público e, sem sombra de dúvidas, não deixará nenhum resquício de saudade.
Poucas foram as tacadas assertivas dessa temporada, apesar das inúmeras tentativas de movimentação no jogo. A produção, inclusive, merece uma salva de palmas por elaborar semanalmente dinâmicas diferenciadas na tentativa de um chacoalho na atração. Infelizmente, a grande maioria foi fracassada; ora pelo elenco chacota, ora pela falta de ação do elenco chacota — alcunha emprestada do canal WebTVBrasileira, que, na minha humilde opinião, fez valer a temporada por meio dos vídeos opinativos sobre o desempenho pífio da edição.
Diferente dos últimos dois anos, pela primeira vez o campeão será um homem do time Camarote, seleção de famosos, influenciadores ou artistas realizada pela produção e que faz parte do formato desde 2020. Ao que tudo indica, o prêmio final irá para o insosso Arthur Aguiar, que conseguiu cativar a parcela mais importante dos telespectadores do programa: as pessoas do sofá.
Assim são chamados aqueles que assistem o programa apenas pela edição, se informam em perfis de fofoca nas redes sociais e possuem uma opinião bastante duvidosa a respeito do jogo. Muitos acabam consumindo a narrativa exposta pela edição sem criar contrapontos, encarando o BBB como uma espécie de novela da vida real. Aliás, em outros tempos, esse mesmo público fez de Juliette a rainha do Brasil, um fenômeno midiático e a maior campeã dos últimos tempos.

Mosaico com o esperado — e decepcionante — elenco da temporada. (Rede Globo/Reprodução)
Um dos motivos pelo qual a temporada pode ter decepcionado tanto é, justamente, a edição que coroou a Rainha dos Cactos. O BBB 21 foi, no mínimo, intenso desde o seu primeiro instante. Com participações mais que explosivas de nomes como Karol Conká, Lucas Penteado, Sarah Andrade, Gil do Vigor e Viih Tube, a última temporada entregou absolutamente tudo sem prometer nada. Diferente da nova, que prometeu tudo e não entregou absolutamente nada. Nada mesmo! Isso a ponto de diversos canais digitais ficarem sem conteúdo para comentar pela falta de recheio, pelo excesso de cochilos e por nenhuma — repito, nenhuma — briga ou discussão relevante. Onde já se viu um reality brasileiro de confinamento sem UM barraco em sua história? Todas as edições de A Fazenda se decepcionariam com esse fato.
Nem tudo foi tão ruim assim…
Mas falando do que tivemos de bom, é impossível não destacar a desenvoltura do carismático Tadeu Schmidt frente ao programa. Com um imenso desafio em mãos, o apresentador deu um tom fofo e cativante à temporada mais esquecível de todas, conquistando o coração dos brasileiros por sua simpatia e simplicidade, tornando-se um crush-daddy queridinho da internet. Aliás, se tem algo que não esqueceremos, é de Tadeu. Já votaram para ele ser o grande campeão hoje?

Sinônimo de fofura, Tadeu Schmidt foi a melhor surpresa dessa temporada. (Rede Globo/Reprodução)
Junto de Tadeu, o time de humoristas Dani Calabresa e Paulo Vieira estrearam com muito brilho na atração. Frente ao “C.A.T. BBB”, Dani deu um show a parte com suas imitações semanais, provando excelência e muita garra na substituição do ótimo Rafael Portugal. Afiada e com senso de humor, cada semana a humorista melhorava o quadro e aprimorava seu talento nas narrativas, tirando leite de pedra diversas vezes em uma temporada de conteúdo negativo.
Já Paulo ganhou o quadro inédito “Big Terapia”, que foi ao ar todas as quartas-feiras com comentários ácidos e entrevistas ao estilo divã com os eliminados da semana. Sem pudor e divertindo o público em um dia água com açúcar dentro das dinâmicas, Paulo mostrou que é um dos maiores artistas do humor na nova geração, criando piadas com a própria emissora e sem medo de ser atacado pelos torcedores ávidos e desesperados. Aliás, nem Dani e nem Paulo tiveram medo do tenebroso cancelamento e se jogaram de forma leve e engraçada nos quadros. Um respiro de alívio para quem, muitas vezes, não encontrou absolutamente nada na edição.
Saudade? Só se for da Mamacita!
Mas como boa parte da temporada foi de um nada somado a coisa alguma, tudo que é criticável mereceu o respaldo negativo. Por exemplo, a terrível substituição de Ana Clara por Rafa Kalimann no “Bate Papo BBB“, quadro que faz a descompressão imediata do eliminado por meio de uma entrevista descontraída, foi um grande fiasco. Nos últimos dois anos, dezenas de trechos viralizaram pelas redes sociais dessas entrevistas, diferente desse ano, que quase nada apresentou repercussão. Rafa tropeçou em diversos momentos, cometeu gafes e foi parcial em várias colocações, deixando nós, enquanto público, ainda mais saudosos da leveza e do carisma de outros tempos.
A audiência também foi implacável nessa temporada. Se no último ano a eliminação de Karol Conká superou o ibope de dez finais do reality, cravando 38 pontos de audiência e passando o número registrado pela novela das 21h na época, essa edição precisou se contentar com míseros 29 pontos em seu dia mais assistido — a eliminação de Jade Picon, em 8 de março. Números bons apenas no faturamento, que bateu recordes antes mesmo da estreia. Programa pago não é sinônimo de sucesso, pelo menos, não com o público, que abandonou a temporada aos poucos, após entender que não, não sairíamos daquele mesmo lugar de sempre.

Saudades da maioral, né? (Rede Globo/Reprodução)
Um temporada morna coroando um competidor frio
Para mim ainda é uma grande incógnita o favoritismo de Arthur Aguiar perante uma parcela do público. Segundo pesquisas, sua fã base atual é constituída, em sua maioria, por senhoras de mais de 45 anos e verificados com opiniões duvidosas. Ouvir de nomes da TV brasileira como Sônia Abrão que o ator foi “um dos maiores jogadores da história do programa” é, no mínimo, risível.
Quem teve sagacidade para acompanhar a temporada até aqui entendeu que absolutamente tudo que o ex-Rebelde tentou realizar enquanto estratégia interna falhou. Arthur é uma espécie de Dick Vigarista, com planos mirabolantes e muitos equívocos que sempre dão errado, construindo uma narrativa inexistente onde ele sempre era a vítima. Porém, nem como vítima ele se sustentou perante seus colegas de confinamento. Muitos, inclusive, ignoravam a existência do joguinho inócuo e merreca de Arthur.
Um dos maiores perigos, entretanto, ficou do lado de fora. Com diversos episódios estapafúrdios, a esposa do ator causou revolta e muita desinformação em suas redes sociais. Em um áudio vazado, sabe Deus por quem, ela assumiu que faria “o que fosse preciso” para que o cônjuge se desse bem no programa e, com esse princípio absurdo, conseguiu movimentar uma onda de negação ao favoritismo do próprio esposo. Até mesmo dizer que o participante Paulo André, o PA, era casado, ela o fez. Não vou entrar no mérito dos vídeos ao estilo cortina de fumaça e nas declarações infelizes, pois ela já recebeu holofotes suficientes. Faço do like de Bruna Marquezine no Twitter as minhas palavras.

A atriz da DC representando muitos de nós com apenas um like. (Twitter/Reprodução)
Apontado como mimado, chato, sem carisma, egocêntrico e viciado em si mesmo, o dono da Padaria (nome dado ao grupo de fãs do ator) provavelmente será consagrado o campeão daquela que é considerada a pior temporada de todas. Nem a expulsão de Maria, a desistência e a participação controversa de Tiago Abravanel e os pontuais (mas ótimos) momentos de Naiara Azevedo salvaram essa edição do fracasso popular. Perto do BBB 22, até o BBB 19 deixou saudade.
Com mais de três meses no ar, nada empolgou nessa temporada insípida do maior reality show do país. Uma temporada que teve desistência, expulsão, casais, rivalidade, casa de vidro, paredão falso e… nada. Agora, ele vai embora de nossas vidas e é como se nunca tivesse passado por elas. Estamos órfãos de entretenimento, de treta e de briga por conta de louça suja. [Rodrigo] Carelli, faça o que for preciso: A Fazenda 14, agora, é nossa grande esperança!

Nota: 2.5
